Há muito tempo penso na possibilidade de montar um trabalho
paralelo aos meus, que seja mais voltado pra música nordestina. Aí me liga um
grande amigo e músico e me faz a proposta de montarmos um show pra tocar forró neste São João. Comecei então a
analisar minha história na música.
A primeira coisa que aprendi a tocar no violão foi o que eu
chamava de “batida de forró”, minha tia kátia fazia os acordes e eu o ritmo.
Antes de tocar violão porém, me arriscava na flauta doce com um repertório de
três músicas basicamente: Asa Branca, Mulher Rendeira e Hey Jude.
Nasci na terra do forró. Durante minha infância estavam no
auge do sucesso Eliane e depois veio Beto Barbosa, mas em minha casa os gostos
musicais eram bem variados. Meu pai escutava Beatles, Vinícius, Milton... Minha
mãe Nelson Gonçalves, Evaldo Gouveia, década explosiva e tudo que era
romântico. Minha tia e professora tocava no violão, de Beto Barbosa à Roberto
Carlos e meu avô que também morava conosco, parecia que só tinha uma música no
repertório, “A Marcha do Marinheiro”, sempre ao seu antigo violão D’Giórgio.
Meu ecletismo musical não poderia deixar de existir. Ao
começar a estudar no colégio Marista Cearense, ingressei na banda Águia Azul. Tocávamos
de Pinduca à Caetano Veloso, de Luiz
Fidélis ao axé music, além de músicas religiosas, por falar nisso, a igreja também
tem uma grande contribuição em minha formação como pessoa e como músico. Viva a
comunidade Mãe Santíssima!
Depois fui estudar violão clássico com o professor Rogério
Lima, foi quando me aproximei das músicas mais complexas em termos de harmonia
e melodia e me envolvi com a clássica
MPB. Em 96 comecei a trabalhar cantando e tocando em bares de Fortaleza, foi
pra mim outra grande escola, mas sentia necessidade de mais estudo e acabei
cursando no IFCE o curso técnico em música, tendo a oportunidade de receber os
ensinamentos de Cecília do Vale, Costa Holanda, Carlinhos Crisóstomo, Dennis
Almeida, Nonato Cordeiro, Lucille Horn, entre outros professores.
Em 2003, quando gravei meu primeiro cd, aconteceu um fato
que considero um dos mais importantes da minha vida; Conheci o mestre
Dominguinhos, que a convite do meu amigo guitarrista e produtor Lu de Souza,
gravou no meu disco a música “Retrato da Vida” de autoria dele e de Djavan.
Como se não bastasse conhecer sua majestade e humildade e ter sua sanfona no
meu primeiro álbum, ele assinou a liberação da música no que dizia respeito a
sua parte e ainda se despediu dizendo: Vá em frente Edinho, você tem muito
talento, tem um trabalho muito bom! Nunca esquecerei as palavras, a sanfona e a
serenidade desse homem.
Depois vieram os festivais. O primeiro festival que ganhei
foi com o baião “Canto modesto”, que
fiz em homenagem a Guaramiranga. Outro prêmio que muito me emociona até hoje, é
o troféu de melhor intérprete do festival de Tatuí-Sáo Paulo(2012), quando
cantei de Dalwton Moura e Luciano Franco a música “Baião Sem Fim”. No festival Canta Ceará, eu e minha banda fomos
contemplados com o troféu de primeiro
lugar quando executamos “De maré em Maré”, música minha e de meu parceiro
Jefferson Portela que mistura o pop com o regional.
Recentemente participei de dois grandes festivais em Minas e em São Paulo com o
xote “Te Procuro”, parceria minha com Angelo Santedícola e Raul Maxwell.Tenho
também composições nesse sentido com meus grandes parceiros Rui Farias e Edil
Figuerêdo .
É, tem tudo a ver. Tenho
que começar a realizar um
trabalho voltado para esse ritmo tão meu, tão da minha
terra, e que cada vez mais me seduz , me
faz querer levar através da minha voz e do meu violão a alma nordestina.
Decidi.Vou tocar
nesse São João !
Edinho Vilas Boas